Gentileza

Nascido em Cafelandia-SP, no dia 11 de abril de 1917, com onze irmãos, José Datrino teve uma infância de muito trabalho, na qual lidava diretamente com a terra e com os animais.

Para ajudar a família, puxava carroça vendendo lenha nas proximidades.

O campo ensinou a José Datrino a amansar burros para o transporte de carga, ofício no qual ele foi muito bom.

Desde sua infância, era possuidor de um comportamento atípico. Por volta dos treze anos de idade, dizia ter premonições de que sua missão na terra seria, um dia, depois de constituir família, filhos e bens, deixar tudo em prol de sua missão.

Este comportamento causou preocupação em seus pais, que chegaram a suspeitar que o filho sofria de algum tipo de loucura, e a buscarem ajuda em "curandeiros espirituais".

No dia 17 de dezembro de 1961, na cidade de Niterói, no Rio de Janeiro, onde José era um próspero empresário do ramo de transportes de cargas, houve um grande incêndio no circo Gran Circus Norte-Americano.

Aquela foi considerada uma das maiores tragédias circenses do mundo.

Ali morreram mais de 500 pessoas, a maioria crianças.

Na antevéspera do Natal de 61, seis dias após o acontecimento, ele acordou alegando ter ouvido "vozes astrais", que o mandavam abandonar o mundo material e se dedicar apenas ao mundo espiritual.

Então, pegou um de seus caminhões e foi para o local do incêndio. Ali plantou um lindo jardim e uma horta, sobre as cinzas do circo.

O local um dia palco de tantas alegrias; noutro, palco de muita tristeza, seria, então, berço de uma bela história de vida. Aquela foi sua morada por mais de quatro anos.

Lá, José Datrino incutia nas pessoas o real sentido das palavras "agradecido" e "gentileza".

Foi um consolador voluntário, que confortou os familiares das vítimas da tragédia com suas palavras de bondade.

Daquele dia em diante, passou a ser chamado de "José Agradecido", ou simplesmente "Profeta Gentileza".

Tempos depois, Gentileza, se diria "amansador dos burros homens da cidade, que não tinham esclarecimento".

A partir de 1980, escolheu 56 pilastras do Viaduto do Caju, no Rio de Janeiro, numa extensão de aproximadamente 1,5 km., e as encheu de inscrições em verde-amarelo propondo sua crítica do mundo e sua alternativa ao mal-estar da civilização.

Durante a Eco-92, o profeta Gentileza colocava-se estrategicamente no lugar por onde passariam os representantes dos povos e incitava-os a viverem a gentileza e a aplicarem gentileza em toda a Terra.

Em 29 de maio de 1996, aos 79 anos e mundialmente conhecido, faleceu.

Com o decorrer dos anos, seus murais foram danificados por pichadores, sofreram vandalismo, e mais tarde foram cobertos com tinta cinza.

A eliminação das inscrições foi criticada por várias correntes da sociedade. Posteriormente, com ajuda da Prefeitura da Cidade do Rio de Janeiro, foi criado o projeto Rio com Gentileza, com o objetivo restaurar a obra deixada por Gentileza, naquelas pilastras.

Os murais começaram a ser recuperadas em janeiro de 1999. Em maio de 2000 a restauração das inscrições foi concluída e o legado cultural quase perdido foi preservado.

No final do ano 2000 foi publicado pela Editora da Universidade Federal Fluminense o livro Brasil: Tempo de Gentileza, de autoria do professor Leonardo Guelman.

A obra introduz o leitor no "universo" do profeta Gentileza, através de sua trajetória, da estilização de seus objetos, de sua caligrafia singular e de todos os 56 painéis criados por ele.

O professor Guelman, ainda coordenou o projeto que recuperou os murais do profeta Gentileza, e lhe dedicou um rigoroso trabalho acadêmico, acompanhado de um belíssimo CD-ROM com o título "Universo Gentileza: a gênese de um mito contemporâneo".

Ele foi homenageado também pelo compositor Gonzaguinha, em 1980, com a música Gentileza, da qual, um trecho, serve de trilho sonora ao clipe contido no link abaixo.

http://www.youtube.com/watch?v=dNIR7qNgFLA